1. MÚSCULOS DO ABDOME
1.1. Anatomia da Parede Abdominal
Descrição geral do abdome
O abdome é uma câmara aproximadamente cilíndrica que se estende da margem inferior do tórax até a margem superior da pelve e do membro inferior. A abertura torácica inferior forma a abertura superior do abdome, fechado pelo diafragma. Inferiormente, a parede abdominal profunda é contínua com a parede pélvica na abertura pélvica. Superficialmente, o limite inferior da parede abdominal é a margem superior do membro inferior. Tal câmara é delimitada pela parede abdominal e contém uma única e grande cavidade peritoneal. As vísceras abdominais ficam suspensas nessa cavidade peritoneal pelo mesentério ou posicionada entre a cavidade e a parede musculoesquelética, posteriormente. Uma das principais funções do abdome é abrigar e proteger as principais vísceras do sistema digestório e parte do sistema genital e urinário, assim como assume papel importante na respiração, sendo a parede abdominal fundamental no processo de expiração forçada. Os componentes da parede abdominal são: parede abdominal, cavidade abdominal, abertura torácica inferior, diafragma e abertura pélvica superior.
Parede Abdominal
A parede abdominal possui um teto, um assoalho, uma parede posterior, duas paredes laterais e uma parede anterior. O teto ou limite superior é formado pelas cartilagens das costelas VII a X e o processo xifoide do esterno e músculo diafragma. O assoalho ou limite inferior é formado pelo ligamento inguinal e as margens superiores das faces anterolaterais do cíngulo do membro inferior (cristas ilíacas, cristas púbicas e sínfise púbica) e peritônio que recobre as vísceras pélvicas. A parede posterior conta com os pares de músculos quadrado do lombo, psoas maior e ilíaco, juntamente às cinco vértebras lombares. Já as paredes laterais são predominantemente formadas por três camadas de músculos, os quais são similares em orientação aos músculos intercostais do tórax - de profundo para o mais superficial temos os músculos transverso do abdome, oblíquo interno do abdome e oblíquo externo do abdome. Por fim, a parede anterior é formada por um par de músculos segmentados, os retos do abdome, que se estendem de cada lado da linha alba (na linha mediana). Como os limites entre as paredes laterais e anterior são imprecisos, muitas vezes são descritas em conjunto como parede anterolateral do abdome.
Além dos músculos esqueléticos que formam a parede anterolateral do abdome, temos superficialmente a pele que recobre toda essa parede, profunda à ela temos a tela subcutânea. A tela subcutânea contém uma quantidade variável de gordura e serve como depósito importante. Essa camada é composta por duas fáscias, a fáscia mais superficial que é chamada de fáscia de Camper (panículo adiposo do abdome) e uma fáscia mais profunda chamada de fáscia de Scarpa (estrato membranáceo). Tal estrato continua inferiormente na região perineal como estrato membranáceo do períneo (fáscia de Colles), mas não prossegue até a coxa.
Em seguida temos os músculos esqueléticos descritos anteriormente. Cada um desses músculos são recobertos pelas suas fáscias profundas (musculares) que também compõem a parede (fáscias superficial, intermediária e profunda). Existe também uma fáscia interna da parede do abdome conhecida como fáscia parietal do abdome, ela é continua e tem diferentes denominações a depender do músculo ou aponeurose que reveste. Por exemplo, a parte dessa fáscia que reveste a face profunda do músculo transverso e sua aponeurose é chamada de fáscia transversal. Enfim, temos a gordura extraperitoneal e o peritônio parietal que recobrem toda a parede interna da cavidade abdominal.
Vale ressaltar que os músculos da parede anterolateral do abdome tem ações específicas e em conjunto ajudam na manutenção de muitas funções fisiológicas. Eles formam uma firme e flexível parede preparada para as seguintes funções: manter as vísceras abdominais dentro da cavidade abdominal, protegendo-as de lesões e ajuda na manutenção de suas posições na postura ereta contra a ação da gravidade; contração durante a expiração forçada e ainda durante a tosse e vômitos; também estão envolvidos em qualquer ação que aumente a pressão intra-abdominal (parto, micção e defecação).
Músculos Planos do Abdome
O músculo oblíquo externo do abdome é o mais superficial entre os músculos planos e imediatamente profundo a fáscia superficial, suas fibras se encontram lateralmente e em uma direção ínfero-medial. Já sua aponeurose recobre a parede anterior da parede abdominal até a linha mediana, formando parte da bainha do músculo reto do abdome e linha alba. Lembrando que a linha alba se estende do processo xifoide até a sínfise púbica e é formada pelo entrelaçamento das fibras das aponeuroses dos músculos da parede lateral do abdome.
É o espessamento da aponeurose do músculo oblíquo externo, mais especificamente a sua extremidade inferior, que forma o ligamento inguinal de cada lado. Tal aponeurose passa entre a espinha ilíaca ântero-superior lateralmente e medialmente ao tubérculo púbico. Ela dobra-se sob ela mesma formando uma passagem a qual tem importante papel na formação do canal inguinal. A partir do ligamento inguinal, outros dois ligamentos surgem, o ligamento lacunar (vai se conectar na linha pectínea do púbis) e o ligamento pectíneo ou de Cooper (fica ao longo da linha pectínea do púbis).
O músculo oblíquo interno do abdome está profundo ao oblíquo externo e é menor e mais delgado, tendo suas fibras musculares passando numa direção súpero-medial. Sua parte lateral termina anteriormente como uma aponeurose que funde-se na linha alba na linha mediana. É revestido pela fáscia intermediária.
O músculo transverso do abdome se encontra profundo ao oblíquo interno e é nomeado assim devido a direção da maioria de suas fibras musculares. A fáscia profunda que reveste esse músculo é mais desenvolvida porque se funde com a fáscia parietal do abdome, denominada fáscia transversal.
Músculos Verticais do Abdome
O músculo reto do abdome é um longo músculo que se estende por todo o comprimento da parede abdominal anterior, é par e se encontram separados na linha mediana pela linha alba. À medida que segue da margem costal até a sínfise púbica, o músculo se torna mais delgado, e nesse trajeto é intersectado três ou quatro vezes por bandas chamadas intersecções tendíneas, as quais são bem visíveis em indivíduos com o reto abdominal bem desenvolvido (hipertrofiado).
O músculo piramidal é pequeno, triangular, pode ser ausente em uma porcentagem da população, é anterior ao músculo reto do abdome, tem sua base no púbis e seu ápice é fixado superiormente e medialmente à linha alba.
O músculo reto do abdome e piramidal estão envolvidos por uma bainha tendínea aponeurótica (a bainha do músculo reto do abdome) formada por uma única camada das aponeuroses dos músculos oblíquo interno e externo e transverso do abdome. Ela envolve os três quartos superiores do músculo reto do abdome (anterior e posteriormente) e a superfície anterior de um quarto desse músculo, inferiormente. A superfície posterior do quarto inferior do músculo reto do abdome fica em contato direto apenas com a fáscia transversal. A partir desse quarto inferior do músculo reto do abdome todas as aponeuroses (advindas dos músculos oblíquo externo, oblíquo interno e transverso) seguem apenas na parede anterior. A linha arqueada é a intersecção entre a parede posterior da bainha do reto do abdome e a fáscia transversal.
Profundo
Superficial
Profundo
Superficial
A parede anterolateral do abdome e diversos órgãos situados na parede posterior são recobertos (no caso dos órgãos, apenas em parte) por uma membrana serosa denominada peritônio, que se reflete (dobra-se bruscamente e continua) sobre as vísceras abdominais, como estômago, intestino, fígado e baço. Assim, forma-se uma bolsa ou espaço virtual revestido, a cavidade peritoneal, entre as paredes e as vísceras, que normalmente contém apenas líquido extracelular (seroso) suficiente para lubrificar a membrana que reveste a maior parte das superfícies das estruturas que formam ou ocupam a cavidade abdominal. O movimento visceral associado à digestão ocorre livremente, e as reflexões de peritônio duplas entre as paredes e as vísceras dão passagem aos vasos sanguíneos, linfáticos e nervos. Também pode haver quantidades variáveis de gordura entre as paredes e as vísceras e o peritônio que as reveste.
2. MÚSCULOS DA PELVE
A pelve é a parte do tronco localizada inferiormente ao abdome e superiormente ao períneo. Parte de suas funções envolve:
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Sustentar o peso da parte superior do corpo nas posições sentada e ortostática;
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Transferir o peso do esqueleto axial para o esqueleto apendicular inferior para ficar de pé e caminhar;
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Proporcionar fixação aos fortes músculos da locomoção e postura, bem como àqueles da parede abdominal, resistindo às forças geradas por suas ações;
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Conter e proteger as vísceras pélvicas (partes inferiores do sistema urinário e dos órgãos genitais internos) e as vísceras abdominais inferiores (intestinos) e, ao mesmo tempo, permitir a passagem de suas partes terminais (e, em mulheres, de um feto a termo) via períneo;
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Proporcionar sustentação para as vísceras abdominopélvicas e o útero grávido;
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Proporcionar fixação para os corpos eréteis dos órgãos genitais externos;
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Proporcionar fixação para os músculos e membranas que auxiliam as funções citadas anteriormente, formando o assoalho pélvico e preenchendo espaços existentes nele ou ao seu redor.
A pelve é subdividida em pelves maior (falsa) e menor (verdadeira) pelo plano "transverso" da abertura superior da pelve. A parte externa da pelve é coberta ou envolvida pela parede abdominal anterolateral. Além disso, a cavidade da pelve maior é contínua com a cavidade abdominal e contém órgãos abdominais e, dessa forma, a pelve maior faz parte do abdome (parte abdominal da cavidade abdominopélvica).
A margem óssea que circunda e define a abertura superior da pelve é a margem da pelve, formada por:
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Promontório e asa do sacro (face superior de sua parte lateral, adjacente ao corpo do sacro);
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As linhas terminais direita e esquerda formam juntas uma estria oblíqua contínua, composta por:
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Linha arqueada na face interna do ílio;
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Linha pectínea do púbis e crista púbica, formando a margem superior do ramo superior e corpo do púbis.
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A abertura inferior da pelve é limitada por:
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Arco púbico, anteriormente;
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Túberes isquiáticos, lateralmente;
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Margem inferior do ligamento sacrotuberal, posterolateralmente;
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Extremidade do cóccix, posteriormente.
Além disso a pelve menor que é alvo da nossa discussão, já que a pelve maior pertence ao abdome, conta com as seguintes características:
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Situada entre as aberturas superior e inferior da pelve;
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Limitada pelas faces pélvicas dos ossos do quadril, sacro e cóccix;
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Inclui a cavidade pélvica verdadeira e as partes profundas do períneo (compartimento perineal), especificamente as fossas isquioanais;
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A face superior côncava do diafragma da pelve musculofascial forma o assoalho da cavidade pélvica verdadeira, que assim é mais profunda na parte central.
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A face inferior convexa do diafragma da pelve forma o teto do períneo, que, portanto, é mais superficial no centro e profundo na periferia. Suas partes laterais (fossas isquioanais) estendem-se bem para cima até a pelve menor.
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Que tem maior importância obstétrica e ginecológica.
VISTA ANTERIOR DA PELVE
- ABERTURA SUPERIOR DA PELVE -
Linha terminal
VISTA INFERIOR DA PELVE
- ABERTURA INFERIOR DA PELVE -
OBS: Nesse modelo, a abertura inferior da pelve está revestida pelos m.m. do assoalho da pelve e m.m. do períneo.
Arco púbico
VISTA ANTERIOR DA PELVE FEMININA
OBS: as margens inferiores dos dois ramos inferiores do púbis e da sínfise púbica formam o arco púbico
A cavidade pélvica afunilada — o espaço limitado perifericamente pelas paredes e assoalho ósseos, ligamentares e musculares da pelve — é a parte inferoposterior da cavidade abdominopélvica. A cavidade pélvica é contínua com a cavidade abdominal na abertura superior da pelve, mas angulada posteriormente em relação a ela.
A cavidade pélvica contém:
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Partes terminais dos ureteres;
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Bexiga urinária;
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Reto;
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Órgãos genitais pélvicos;
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Vasos sanguíneos, linfáticos e nervos;
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Alças de intestino delgado, principalmente íleo;
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Intestino grosso (apêndice vermiforme e colo ascendente e sigmoide).
A cavidade pélvica é limitada por uma parede anteroinferior, duas paredes laterais, uma parede posterior e um assoalho. Os corpos e ramos dos púbis, e a sínfise púbica que os une, formam uma parede anteroinferior, que participa na sustentação do peso da bexiga urinária e cuja profundidade é muito menor do que a parede posterossuperior e o teto.
As paredes laterais da pelve são formadas pelos ossos do quadril direito e esquerdo, e cada um deles tem um forame obturado fechado por uma membrana obturadora. As fixações carnosas dos músculos obturadores internos cobrem e, assim, protegem, a maior parte das paredes laterais da pelve. As fibras carnosas de cada músculo obturador interno convergem posteriormente, tornam-se tendíneas, fazem uma curva acentuada e seguem lateralmente, deixando a pelve menor, através do forame isquiático menor, para se fixarem no trocanter maior do fêmur. As faces mediais desses músculos são cobertas pela fáscia obturatória, espessada centralmente como um arco tendíneo que oferece fixação para o diafragma da pelve.
A parede posterior da pelve consiste em uma parede e um teto ósseos na linha mediana, formados pelo sacro e cóccix, e nas paredes posterolaterais musculoligamentares, formadas pelos ligamentos associados às articulações sacroilíacas e músculos piriformes. Os ligamentos incluem o sacroilíaco anterior, o sacroespinal e o sacrotuberal. Os músculos piriformes originam-se da parte superior do sacro, lateralmente a seus forames pélvicos. Os músculos seguem lateralmente, deixando a pelve menor através do forame isquiático maior para se fixarem na margem superior do trocanter maior do fêmur. Esses músculos ocupam grande parte do forame isquiático maior, formando as paredes posterolaterais da cavidade pélvica. Imediatamente profundos a esses músculos estão os nervos do plexo sacral. Uma abertura na margem inferior do músculo piriforme permite a passagem de estruturas neurovasculares entre a pelve e a região glútea.
O assoalho pélvico é formado pelo diafragma da pelve, que consiste nos músculos isquiococcígeo e levantador do ânus e nas fáscias que recobrem as faces superior e inferior desses músculos. O diafragma da pelve estende-se entre as paredes anterior, lateral e posterior da pelve menor, separando a cavidade pélvica do períneo. A fixação do diafragma à fáscia obturatória divide o músculo obturador interno em uma porção pélvica superior e uma porção perineal inferior. Situados medialmente às partes pélvicas dos músculos obturadores internos estão os nervos e vasos obturatórios e outros ramos dos vasos ilíacos internos. Os músculos isquiococcígeos originam-se nas faces laterais da parte inferior do sacro e cóccix, suas fibras carnosas situam-se sobre a face profunda do ligamento sacroespinal e se fixam a ela. O músculo levantador do ânus está fixado aos corpos dos púbis anteriormente, às espinhas isquiáticas posteriormente, e a um espessamento na fáscia obturatória (o arco tendíneo do músculo levantador do ânus) entre os dois pontos ósseos de cada lado. Esse músculo forma um assoalho dinâmico, que mantém contração tônica, para sustentar as vísceras abdominopélvicas. Uma abertura anterior entre as margens mediais dos músculos levantadores do ânus de cada lado — o hiato urogenital — dá passagem à uretra e, nas mulheres, à vagina. É perfurado também no centro, pelo canal anal.
O músculo levantador do ânus tem três partes:
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M. Puborretal: a parte medial, mais estreita e mais espessa do músculo levantador do ânus, que consiste em fibras musculares contínuas entre as faces posteriores dos corpos dos púbis direito e esquerdo. Forma uma alça muscular em formato de U (alça puborretal) que passa posteriormente à junção anorretal e delimita o hiato urogenital. Essa alça fubciona como um esfíncter ao redor do reto, auxiliando na continência fecal.
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M. Pubococcígeo: a parte intermediária mais larga, porém menos espessa, do músculo levantador do ânus, com origem lateral ao músculo puborretal, a partir da face posterior do corpo do púbis e arco tendíneo anterior. Segue posteriormente em um plano quase horizontal; suas fibras laterais fixam-se ao cóccix e suas fibras mediais fundem-se às do músculo contralateral para formar uma rafe fibrosa ou lâmina tendínea, parte do corpo anococcígeo entre o ânus e o cóccix. Alças musculares mais curtas do músculo pubococcígeo que se estendem medialmente e se fundem à fáscia ao redor de estruturas na linha mediana são denominadas de acordo com a estrutura próxima de seu término: pubovaginal (mulheres), puboprostático (homens), puboperineal e puboanal.
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M. Iliococcígeo: a parte posterolateral do músculo levantador do ânus, que se origina na parte posterior do arco tendíneo e na espinha isquiática. É fina, em geral pouco desenvolvida e também se funde ao corpo anococcígeo posteriormente.
VISTA SUPERIOR DA CAVIDADE PÉLVICA FEMININA
VISTA SUPERIOR DO ASSOALHO DA PELVE (DIAFRAGMA DA PELVE)
VISTA MEDIAL DA CAVIDADE PÉLVICA FEMININA
VISTA POSTERIOR DA PELVE FEMININA
3. MÚSCULOS DO PERÍNEO
O períneo é um compartimento pouco profundo do corpo, que se estende do cóccix até o púbis, limitado pela abertura inferior da pelve e separado da cavidade pélvica pela fáscia que reveste a face inferior do diafragma da pelve, formado pelos músculos levantador do ânus e isquiococcígeo. Esse compartimento inclui o ânus e os órgãos genitais externos: o pênis e o escroto no homem e o pudendo feminino.
Estruturas que marcam os limites do períneo:
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Sínfise púbica, anteriormente;
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Ramos isquiopúbicos, anterolateralmente;
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Túberes isquiáticos, lateralmente;
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Ligamentos sacrotuberais, posterolateralmente;
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Parte inferior do sacro e cóccix, posteriormente.
Uma linha transversal que une as extremidades anteriores dos túberes isquiáticos divide o períneo em região anal – posteriormente a linha – e região urogenital – anteriormente a linha – e seu ponto médio forma o ponto central do períneo (corpo do períneo). A região urogenital é fechada por uma fina lâmina de fáscia profunda e resistente, ao contrário da região anal, que é aberta. Essa fáscia, a membrana do períneo, se estende entre os dois lados do arco púbico, cobrindo a parte anterior da abertura inferior da pelve, mas é perfurada pela uretra em ambos os gêneros e pela vagina na mulher.
O corpo do períneo situa-se profundamente à pele, com relativamente pouco tecido subcutâneo sobrejacente, posteriormente ao vestíbulo da vagina ou bulbo do pênis e anteriormente ao ânus e canal anal. Anteriormente, o corpo do períneo funde-se com a margem posterior da membrana do períneo e superiormente com o septo retovesical ou retovaginal. O corpo do períneo é o local de convergência e entrelaçamento de fibras de vários músculos, inclusive:
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M. bulboesponjoso;
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M. esfíncter externo do ânus;
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Músculos transversos superficial e profundo do períneo;
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Alças lisas e voluntárias dos músculos esfíncter externo da uretra e levantador do ânus e túnicas musculares do reto.
3.1. Fáscias do períneo
A tela subcutânea do períneo consiste em um panículo adiposo superficial e uma camada membranácea profunda, o estrato membranáceo (fáscia de Colles). Nas mulheres, o panículo adiposo da tela subcutânea do períneo forma os lábios maiores do pudendo e o monte do púbis e é contínuo anterior e superiormente com o panículo adiposo da tela subcutânea do abdome (fáscia de Camper). Nos homens, o panículo adiposo é muito diminuído na região urogenital, sendo totalmente substituído no pênis e no escroto pelo músculo dartos. É contínuo entre o pênis e escroto e as coxas com a fáscia de Camper.
Em ambos os gêneros, o panículo adiposo da tela subcutânea do períneo é contínuo posteriormente com o corpo adiposo isquioanal na região anal. O estrato membranáceo da tela subcutânea do períneo não se estende até a região anal, está fixado posteriormente à margem posterior da membrana do períneo e ao corpo do períneo. Lateralmente, fixa-se à fáscia lata (fáscia dos músculos) da face medial superior da coxa.
Anteriormente, em homens, o estrato membranáceo da tela subcutânea é contínuo com a túnica dartos do pênis e escroto; entretanto, de cada lado e anteriormente ao escroto, o estrato membranáceo torna-se contínuo com o estrato membranáceo da tela subcutânea do abdome (fáscia de Scarpa). Nas mulheres, o estrato membranáceo passa superiormente ao panículo adiposo, formando os lábios maiores do pudendo e torna-se contínuo com a fáscia de Scarpa. A fáscia superficial do períneo (fáscia de Gallaudet) reveste intimamente os músculos isquiocavernoso, bulboesponjoso e transverso superficial do períneo. Também está fixada lateralmente aos ramos isquiopúbicos. Anteriormente, funde-se ao ligamento suspensor do pênis e é contínua com a fáscia dos músculos que cobre o músculo oblíquo externo do abdome e a bainha do músculo reto do abdome. Nas mulheres, a fáscia superficial do períneo está fundida ao ligamento suspensor do clitóris e, como em homens, à fáscia profunda de revestimento do abdome.
3.2. Espaços da região urogenital
O espaço superficial do períneo é um espaço virtual entre a fáscia do períneo e a membrana do períneo, limitado lateralmente pelos ramos isquiopúbicos.
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Nos homens, o espaço superficial do períneo contém:
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Raiz (bulbo e ramos) do pênis e músculos associados (isquiocavernoso e bulboesponjoso);
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Porção proximal (bulbar) da parte esponjosa da uretra;
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Músculos transversos superficiais do períneo;
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Ramos perineais profundos dos vasos pudendos internos e nervos pudendos.
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Nas mulheres, o espaço superficial do períneo contém:
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Clitóris e músculos associados (isquiocavernoso);
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Bulbos do vestíbulo e músculo adjacente (bulboesponjoso);
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Glândulas vestibulares maiores;
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Músculos transversos superficiais do períneo;
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Vasos e nervos relacionados (ramos perineais profundos dos vasos pudendos internos e nervos pudendos).
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O espaço profundo do períneo é limitado inferiormente pela membrana do períneo, superiormente pela fáscia inferior do diafragma da pelve, e lateralmente pela porção inferior da fáscia obturatória.
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Em ambos os sexos, o espaço profundo do períneo contém:
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Parte da uretra, centralmente;
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A parte inferior do músculo esfíncter externo da uretra;
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Extensões anteriores dos corpos adiposos isquioanais.
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Nos homens, o espaço profundo do períneo contém:
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Parte intermédia da uretra;
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Músculos transversos profundos do períneo;
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Glândulas bulbouretrais;
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Estruturas neurovasculares dorsais do pênis.
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Nas mulheres, o espaço profundo do períneo contém:
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Parte proximal da uretra;
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Massa de músculo liso no lugar dos músculos transversos profundos do períneo;
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Rede neurovascular dorsal do clitóris.
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No homem, apenas a parte inferior do músculo esfíncter externo da uretra forma um revestimento circular (um esfíncter verdadeiro) para a parte intermédia da uretra inferior à próstata. Sua maior parte, escavada, estende-se verticalmente até o colo da bexiga como parte do istmo da próstata, deslocando o tecido glandular e revestindo a parte prostática da uretra apenas nas regiões anterior e anterolateral. Na mulher, também, uma parte forma um esfíncter anular verdadeiro ao redor da uretra, e várias outras partes estendem-se a partir dele: uma parte superior, que se estende até o colo da bexiga; uma subdivisão que se estende inferolateralmente até o ramo do ísquio de cada lado (o músculo compressor da uretra); e, ainda, outra parte semelhante a uma faixa, que circunda a vagina e a uretra (esfíncter uretrovaginal).
VISTA INFERIOR DO PERÍNEO FEMININO
3.3. Região Anal
As fossas isquioanais de cada lado do canal anal são grandes espaços triangulares, revestidos por fáscia, entre a pele da região anal e o diafragma da pelve. São largas inferiormente e estreitas superiormente, sendo preenchidas por gordura e tecido conjuntivo frouxo, que sustentam o canal anal. O ápice de cada fossa situa-se superiormente onde o músculo levantador do ânus origina-se da fáscia obturatória. As duas fossas isquioanais comunicam-se através do espaço pós-anal profundo sobre o corpo anococcígeo, massa fibrosa localizada entre o canal anal e a extremidade do cóccix. Partes das fossas, que se estendem até a região UG superiormente à membrana do períneo, são conhecidas como recessos anteriores das fossas isquioanais. Cada fossa isquioanal é limitada:
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Lateralmente pelo ísquio e parte inferior superposta do músculo obturador interno, coberto pela fáscia obturatória;
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Medialmente pelo músculo esfíncter externo do ânus, com uma parede medial superior inclinada ou teto formado pelo músculo levantador do ânus quando desce para se fundir ao esfíncter. As duas estruturas circundam o canal anal;
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Posteriormente pelo ligamento sacrotuberal e músculo glúteo máximo;
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Anteriormente pelos corpos dos púbis, inferiormente à origem do músculo puborretal.
O canal do pudendo (canal de Alcock) é uma passagem praticamente horizontal na fáscia obturatória que cobre a face medial do músculo obturador interno e reveste a parede lateral da fossa isquioanal. A artéria e veia pudendas internas, o nervo pudendo e o nervo para o músculo obturador interno entram nesse canal na incisura isquiática menor, inferiormente à espinha isquiática. Quando a artéria e o nervo entram no canal, dão origem à artéria retal inferior e ao nervo anal inferior, que seguem medialmente para suprir o músculo esfíncter externo do ânus e a pele perianal. Próximo à extremidade distal (anterior) do canal pudendo, a artéria e o nervo bifurcam-se, dando origem ao nervo e à artéria perineais, que são distribuídos principalmente para o espaço superficial (inferior à membrana do períneo), e à artéria e nervo dorsais do pênis ou clitóris, que seguem no espaço profundo (superior à membrana). Quando essas últimas estruturas chegam ao dorso do pênis ou do clitóris, os nervos seguem distalmente na face lateral da continuação da artéria pudenda interna enquanto ambos prosseguem até a glande do pênis ou do clitóris. O nervo perineal tem dois ramos: o ramo perineal superficial dá origem aos nervos escrotais ou labiais (cutâneos) posteriores, e o ramo perineal profundo supre os músculos dos espaços profundo e superficial do períneo, a pele do vestíbulo da vagina e a túnica mucosa da parte inferior da vagina. O nervo anal inferior comunica-se com os nervos escrotais ou labiais posteriores e com os nervos perineais. O nervo dorsal do pênis ou clitóris é o principal nervo sensitivo do órgão masculino ou feminino, sobretudo a glande sensível na extremidade distal.