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        O sistema linfático está distribuído por quase todo o corpo, porém sua delicadas estruturas não é visível em sua maioria no cadáver. Sua função adequada é essencial para a sobrevivência e a compreensão de seu funcionamento muito importante para realização de diagnósticos e entendimento de muitas enfermidades. A hipótese de Starling, muito estudada pelos fisiologistas, explica como a maior parte dos líquidos e eletrólitos que entram nos espaços extracelulares provenientes dos capilares sanguíneos também é reabsorvida por eles. Basicamente, as forças envolvidas são a pressão hidrostática e a pressão coloidosmótica e compreender sua ações é fundamental para o estudo do sistema linfático.

1. Organização do Sistema Linfático

        A maior parte do líquido e eletrólitos que são liberados pelos capilares no meio intersticial voltam a circulação através dos próprios vasos sanguíneos. No entanto, uma pequena porção desse conteúdo deixa de ser reabsorvida por essas estruturas (cerca de 3 litros a cada dia). Dessa maneira, o espaço extracelular apresenta liquido intersticial, restos celulares e proteínas plasmáticas. Caso houvesse o acúmulo desse material, poderia ocorrer a osmose inversa, atraindo ainda mais líquido e provocando edema. Em contrapartida, em condições normais o volume de liquido intersticial permanece constate devido ao sistema linfático.

       Nesse sentido, o sistema linfático garante a drenagem do excesso de líquido tecidual e das proteínas plasmáticas, além de permitir a remoção de resíduos da decomposição celular e infecção, sendo considerado um sistema de hiperfluxo.

        O sistema linfático é composto por:

  • Plexos linfáticos: constituem ramificações de capilares linfáticos dispostos em redes que por não possuírem em seu endotélio uma membrana basal, bactérias, linfócitos, proteínas plasmáticas e resíduos celulares e o líquido tecidual em excesso entram em seu endotélio com maior facilidade.

  • Vasos linfáticos: estruturas de paredes finas e com um grande número de válvulas sendo que em algumas delas há saliências dando-lhes uma característica semelhante a um colar de contas. Vale ressaltar que juntamente com os capilares, os vasos linfáticos são encontrados onde há capilares sanguíneos, exceto nos ossos, dentes, medula óssea e sistema nervoso central.

  • Linfa: líquido de coloração transparente ou ligeiramente amarelado derivado do líquido intersticial, assim ele entra (drenado) nos capilares sanguíneos e é conduzido pelos vasos linfáticos.

  • Linfonodos: pequenas massas linfáticas encapsuladas de formato oval ou de feijão, servem como barreira por filtrar a linfa e por isso ficam dispostos ao longo do trajeto dos vasos linfáticos. São locais de ativação da resposta imune adaptativa.

  • Linfócitos: células responsáveis pela imunidade adquirida que reagem contra substâncias consideradas estranhas no nosso corpo, por isso são também conhecidas como células de defesa. Encontram-se nos linfonodos, baço, trato gastrointestinal, timo e medula óssea.

  • Órgãos linfoides: como o próprio nome sugere, são órgãos que possuem tecido linfoide e cuja função é a produção ou proliferação de linfócitos, são eles: medula óssea vermelha, baço, timo, tonsilas e nódulos linfáticos solitários ou no sistema digestório e apêndice vermiforme.

A

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Figura 1 - O sistema linfático e sua relação com as veias. Em A, observem a distribuição dos vasos linfáticos superficiais e profundos ao longo do corpo humano e sua relação anatômica com as veias sistêmicas. Em B, o esquema mostra a formação dos vasos linfáticos a partir dos espaços intersticiais como vasos de fundo fechado (cego). Esses vasos seguem em direção aos linfonodos (Imagem retirada de Moore; Dalley; Agur, 2014).

QUAL O CAMINHO PERCORRIDO PELOS VASOS LINFÁTICOS?

       No tecido subcutâneo são encontrados os vasos linfáticos, os quais acompanham a drenagem venosa e convergem para ela. Em seu percurso, tais vasos convergem para os vasos linfáticos profundos que acompanham as artérias e também recebem a drenagem de órgãos internos. Provavelmente, o que leva ao ordenhamento (drenagem) da linfa ao longo desses vasos seria a compressão exercida pelas artérias próximas, ou seja, pela própria pulsação arterial.

        Os linfonodos são atravessados tanto pelos vasos linfáticos superficiais quanto pelos profundos em seus trajetos no sentido proximal, tornando-se maiores à medida que se unem a vasos que drenam regiões adjacentes. Deve-se ressaltar que os grandes vasos linfáticos vão ao encontro de grandes vasos coletores, denominados troncos linfáticos, os quais se unem para formar o ducto linfático direito e o ducto torácico (Figura 1).

                                 Ducto Linfático Direito: é responsável por drenar a linfa do quadrante

                                 superior direito do corpo (lado direito da cabeça, pescoço e tórax,

                                 além do membro superior direito).

                                 Ducto Torácico: drena a linfa do restante do corpo.

        No abdome, os troncos linfáticos que drenam a metade inferior do corpo unem-se, algumas vezes formando uma estrutura dilatada, a cisterna do quilo. A partir desse saco o ducto torácico ascende, entrando no tórax e atravessando-o para chegar ao ângulo venoso esquerdo (junção das veias jugular interna esquerda e subclávia esquerda).

        Torna-se válido destacar que os vasos linfáticos comunicam-se livremente com as veias em muitas partes do corpo.

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Figura 2 - Em A, acompanhem o padrão da circulação nos capilares sanguíneos em relação aos capilares linfáticos. Em B, as setas indicam a direção da drenagem linfática do líquido intersticial para o interior de um capilar linfático. A drenagem ocorre de acordo com a resultante entre as forças de Starling (Imagem retirada de TORTORA; DERRICKSON, 2017).

2. Órgãos Linfoides
2.1. LINFONODOS

    Os linfonodos são pequenos corpos em formato de rim, encapsulados, com 0,1 a 2,5 cm de comprimento. Um adulto normal possui cerca de 450 linfonodos situados ao longo do trajeto dos vasos linfáticos, se concentrado nas regiões da cabeça e pescoço, tórax, abdome e pelve. Os linfonodos cumprem a função de apresentação de antígeno, bem como a de ativação, diferenciação e proliferação de linfócitos (os linfócitos T são maturados no timo e, após serem liberados na linfa, alojados nos linfonodos), sendo responsáveis pela preparação das células B e T para os antígenos e pela filtração de partículas e microrganismos estranhos contidos na linfa.

        Quanto a sua microestrutura, cada linfonodo possui uma ligeira concavidade em um lado, o hilo, por meio do qual vasos sanguíneos entram e saem, e o vaso linfático eferente sai; os vasos linfáticos aferentes  entram pela cápsula em torno da periferia do linfonodo. Os linfonodos são revestidos por um cápsula composta principalmente de fibras colágenas, fibras de elastina e alguns fibroblastos; a partir dessa cápsula são formadas trabéculas de tecido conjuntivo denso que se projetam radialmente para o interior do linfonodo e são contínuas com uma rede de fibrilas finas de colágeno tipo III (reticulina), responsável por sustentar o tecido linfoide; no hilo esse tecido fibroso denso pode se estender para a medula, rodeando o vaso linfático eferente. No interior da cápsula, os linfonodos possuem um córtex altamente celular e uma medula permeada por uma rede de seios ou canais linfáticos, através dos quais a linfa trazida pelos linfáticos aferentes é filtrada e coletada no hilo pelo linfático eferente; o córtex é ausente no hilo , onde a medula atinge a cápsula.

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Figura 3 - Estrutura externa de um linfonodo (Imagem retirada de SOBOTTA, 2019).

VISTA FRONTAL DO TORSO (REGIÃO PÉLVICA E INGUINAL)

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VISTA FRONTAL DO TORSO (REGIÃO PÉLVICA E INGUINAL)

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Figura 4 - Estrutura interna de um linfonodo. Observem a direção do fluxo da linga (setas pretas) (Imagem retirada de SOBOTTA, 2019).

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Figura 5 - Tipos de células de um linfonodo (Imagem retirada de TORTORA; DERRICKSON, 2017).

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Figura 6 - Drenagem linfática da mama feminina e posição dos linfonodos regionais (Imagem retirada de SOBOTTA, 2019).

2.2. BAÇO

      O baço é o maior dos órgãos linfoides do corpo humano em tamanho, ainda que seja móvel e de tamanho variável, localizado no hipocôndrio esquerdo do abdome. É delimitado exteriormente por uma cápsula (esplênica) fibrosa e por parte do peritônio visceral. Deste se desdobram duas estruturas responsáveis pela manutenção do posicionamento e pela união do baço aos órgãos adjacentes:

  • Ligamento esplenorrenal: faz a ligação entre o baço e o rim esquerdo;

  • Ligamento gastroesplênico: faz a ligação entre o baço e o estômago.

       O baço é formado por duas camadas histológicas diferenciadas: a polpa vermelha, por onde passam as artérias e veias que serão ‘filtradas’ pelas células imunológicas; e a polpa branca, constituída por leucócitos variados, que são responsáveis pela retirada de potenciais agentes infecciosos do sangue.

       A circulação sanguínea do baço passa pelo hilo esplênico, local de confluência da veia, da artéria, dos nervos e dos vasos linfáticos esplênicos. O hilo se posiciona na parte medial do baço e por vezes está em contato com a cauda do pâncreas. A inervação é feita pelo nervo esplênico, que é derivado do plexo celíaco.

       O baço se relaciona com outros órgãos da seguinte forma:

  • Anteriormente: relaciona-se com o estômago;

  • Posteriormente: relaciona-se ao mesmo tempo com a parte esquerda do diafragma, o pulmão esquerdo e as 9ª a 11ª costelas;

  • Medialmente: relaciona-se com o rim esquerdo;

  • Inferiormente: relaciona-se com a flexura esquerda do colo.

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Baço
Vasos gastromentais esquerdos
Baço acessório
Vasos esplênicos
Plexo esplênico
Peritônio parietal
Linfonodos esplênicos
Cauda do pâncreas
Baço
Lig. esplenorrenal
Lig. gastroesplênico

Figura 7 - Baço, seus ligamentos e estruturas do hilo esplênico (Imagem retirada de SOBOTTA, 2019).

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Polo posterior
Margem inferior
Polo inferior
Margem superior
Lig. gastroesplênico
Face gástrica
Hilo esplênico
Face diafragmática
Face visceral
Polo anterior
Face cólica
Veia esplênica
Vasos gastromentais esquerdos
Artéria esplênica
Lig. esplenorrenal
Margem inferior
Face renal
Vasos gástricos curtos
Polo posterior

Figura 7 - Faces, margens e hilo esplênico (Imagem retirada de NETTER, 2014).

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VISTA ANTERIOR DO BAÇO, PÂNCREAS, DUODENO E ESTRUTURAS RELACIONADAS

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VISTA POSTERIOR DO BAÇO, PÂNCREAS, DUODENO E ESTRUTURAS RELACIONADAS

VISTA ANTERIOR DO TORSO

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2.3. TIMO

        O timo é um órgão linfoide essencial responsável pelo fornecimento de linfócitos T para o corpo. Ele é capaz de promover o microambiente necessário para o desenvolvimento, a diferenciação e a divisão das células T de modo a fornecer uma resposta imunológica específica que possui, simultaneamente, tolerância imunológica aos componentes do próprio corpo. Esse órgão é caracterizado como um dos dois órgãos linfoides primários, acompanhado pela medula óssea vermelha (o segundo órgão linfoide primário). É constituído por dois lobos encapsulados, os quais são unidos na linha mediana por tecido conjuntivo que se une à capsula de cada lobo. O timo é maior no início da vida, principalmente até a puberdade, a partir da qual sofre considerável involução com o avanço da idade, sendo substituído por gordura em sua maior parte; a despeito da perda de tecido linfoide considerável, persiste ativo na velhice.

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Figura 8 - Organização microscópica do timo em vários estágios da vida e sob diferentes condições (Imagem retirada de STANDRING, 2010).

        Localizado posteriormente ao manúbrio esternal, o timo ocupa a região inferior do pescoço e a parte anterior do mediastino superior, se estendendo até a parte anterior do mediastino inferior - anteriormente ao pericárdio fibroso. Sua borda inferior alcança o nível das quartas cartilagens costais. Superiormente, extensões para o pescoço são comuns (em decorrência das origens embriológicas do timo), seus polos superiores se unem na altura da incisura jugular e se estendem para cima. O polo esquerdo geralmente se eleva mais alto, atingindo muitas vezes os polos inferiores da glândula tireoide a qual se liga por meio do ligamento tireotímico.

         Estruturas adjacentes (relações):

  • Anteriormente: as três cartilagens costais superiores, os vasos torácicos internos, o manúbrio do esterno e os músculos esternotireóideo e esterno-hióideo;

  • Posteriormente: parte superior da traqueia, superfície anterior do coração e os vasos do mediastino superior;

  • Lateralmente: se encontram lateralmente às pleuras, e os nervos frênicos que se localizam anterolateral e inferiormente.

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Figura 9 - Vista lateral do mediastino (Imagem retirada de STANDRING, 2010).

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Figura 10 - Vista anterior do mediastino (Imagem retirada de GILROY, 2010).

      Em relação a sua microestrutura, ambos os lobos tímicos são envolvidos por uma cápsula de tecido conjuntivo frouxo, a partir da qual se projetam septos que penetram em direção a medula e separam parcialmente os lobos em lóbulos irregulares, cada um com cerca de 0,5 a 2,0 mm de diâmetro. Os vasos sanguíneos e os linfáticos eferentes, bem como os nervos encontram sua rota de entrada por meio dos septos de tecido conjuntivo. Quanto a estrutura de cada lóbulo, o córtex é formado por um córtex superficial subcapsular (imediatamente abaixo da cápsula, uma estreita faixa de células) e o córtex principal, muito mais extenso; também possuem uma medula que se encontra centralizada em ambos os lobos e é contínua de um lóbulo para o outro.

       Quanto ao suprimento sanguíneo e drenagem do timo não há um hilo principal, sendo assim os ramos arteriais passam diretamente pela cápsula e em meio aos septos interlobares. A irrigação arterial dele provém principalmente por ramos mediastinais e intercostais anteriores das artérias torácicas internas e pela tireóidea inferior; um ramo da artéria tireóidea superior às vezes é presente. Quanto a drenagem venosa, as veias tímicas tributam para as veias tireóidea inferior, torácicas internas e braquiocefálica esquerda; frequentemente algumas veias emergem medialmente de cada lobo e se confluem formando um tronco comum que tributa na veia braquiocefálica esquerda. Com relação à drenagem linfática, o timo não possui vasos linfáticos aferentes. Já com relação aos vasos eferentes, estes emergem a partir da junção corticomedular e da medula, drenando através dos espaços extravasculares aliados das artérias e veias que suprem o timo. Os vasos linfáticos tímicos terminam nos linfonodos braquicefálicos, paraesternais e traqueobronquiais.

      A inervação do timo é realizada por meio da cadeia simpática através do gânglio cervicotorácico e pelo nervo vago.

VISTA ANTERIOR DO CORAÇÃO E TIMO

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VISTA LATERAL DO CORAÇÃO E TIMO

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2.4. MEDULA ÓSSEA

        A medula óssea vermelha localiza-se no interior dos espaços dos ossos, na cavidade medular dos ossos longos jovens e em espaços do osso esponjoso. É formada por vasos sanguíneos comuns e especializados (os sinusoides), e uma rede esponjosa de células hematopoéticas. As células hematopoéticas aparecem dispostas em “cordões” entre os sinusoides ou entre os sinusoides e o osso.

        Os sinusoides derivam de ramificações de vasos sanguíneos que acabaram de nutrir o tecido ósseo cortical e formam a barreira entre o compartimento hemocitopoético e a circulação periférica. Sua parede consiste em um endotélio de epitélio simples pavimentoso, uma membrana basal descontínua e uma cobertura incompleta de células adventícias. O sistema sinusoidal da medula óssea é um sistema de circulação fechado, sendo assim, as células sanguíneas recém formadas para entrar na circulação devem penetrar no endotélio.

        A célula reticular ou adventícia emite extensões que se estendem até os cordões hemocitopoéticos, garantindo suporte para as células sanguíneas em desenvolvimento. Ademais, as células reticulares produzem fibras reticulares e desempenham papel na estimulação da diferenciação das células progenitoras em células sanguíneas.

        Na medula óssea vermelha ativa, os cordões de células hematopoéticas contêm principalmente megacariócitos e células sanguíneas em desenvolvimento. Além disso, possuem macrófagos, mastócitos e alguns adipócitos. Alguns tipos específicos de células sanguíneas desenvolvem-se em ninhos ou aglomerados. Os ninhos dos eritrócitos possuem um macrófago cada, esses aglomerados estão localizados próximo à parede do sinusoide, assim como os megacariócitos. Os megacariócitos descarregam suas plaquetas por meio de aberturas existentes no endotélio. Por outro lado, os ninhos de granulócitos estão localizados afastados da parede do sinusoide, quando a célula fica madura migra para as proximidades e entra na corrente sanguínea.

        A medula óssea não ativa na formação de células sanguíneas apresenta predominantemente adipócitos, conferindo-lhe a aparência de tecido adiposo. Dessa forma, é denominada medula óssea amarela. É a forma mais comum de medula óssea encontrada em indivíduos adultos. Curiosidade: A medula óssea amarela retém o seu potencial hemocitopoético e pode reverter, quando necessário, para a medula óssea vermelha.

          O estudo mais detalhado da medula óssea pode ser encontrado na página de HISTOLOGIA referente à SANGUE.

2.5. TONSILAS

            As tonsilas são agregados de tecido linfoide não capsulados denominados nódulos linfáticos. Estão localizadas estrategicamente na entrada de sistemas abertos como o tubo digestório e o trato respiratório.

Tonsilas Palatinas

      As tonsilas palatinas são bilaterais (uma a esquerda e outra a direita) e fazem parte do anel linfoide circunfaríngeo – Anel de Waldeyer. Cada tonsila consiste em uma massa de tecido linfoide em formato ovoide situada na parede lateral da orofaringe. O tamanho de cada uma é variável de acordo com a idade: durante os primeiros anos de vida as tonsilas aumentam rapidamente de tamanho, geralmente atingindo o máximo na puberdade, período em que se projetam visivelmente na orofaringe. A involução das tonsilas começa no período da puberdade com a atrofia do tecido linfoide, sendo que em idade avançada pouco tecido linfoide permanece.

    Quanto a sua estrutura, a tonsila apresenta em sua superfície medial livre o aspecto de depressões. Essas depressões, geralmente de 10 a 20 em número, levam a um sistema, com frequência, altamente ramificado de criptas, que se estendem por toda a espessura da tonsila. Esse sistema de ramificação atinge seu tamanho e complexidade máximos durante a infância. Em uma tonsila saudável, as aberturas das criptas são semelhantes a fendas e suas paredes se dobram para entrar em contato uma com a outra. A abertura de uma fenda tonsilar profunda (Recesso palatino, fenda intratonsilar) é muitas vezes chamada, equivocadamente, de fossa supratonsilar, entretanto não se situa superior à tonsila, mas em seu interior voltada para a parte superior da superfície medial da tonsila. A parte superior da parede da fenda contém tecido linfoide, o qual se estende para o palato mole como a parte palatina da tonsila palatina. A superfície lateral ou profunda se prolonga superior, inferior e anteriormente. Inferiormente, invade o dorso da língua, superiormente o palato mole e, anteriormente, pode se estender sob o arco do palatoglosso. Esta face lateral profunda é revestida por uma camada de tecido fibroso, a hemicápsula tonsilar, adjacente a uma parede muscular da faringe composta pelomúsculo constritor superior e, às vezes, pelas fibras anteriores do palatofaríngeo, com o estiloglosso em sua lateral. Anteroinferiormente,a hemicápsula adere a região lateral da língua e ao músculo palatoglosso e palatofaríngeo.​

        Quanto ao suprimento vascular, a irrigação arterial da tonsila palatina é derivada dos ramos da artéria carótida externa. Três artérias penetram por meio do polo inferior da tonsila, são elas a artéria tonsilar (a maior da três), ramo da artéria facial (algumas vezes é ramo da palatina ascendente), os ramos linguais dorsais da artéria lingual, que entram anteriormente, e um ramo da artéria palatina ascendente, que entra posteriormente suprindo a parte inferior da tonsila. No polo superior, a tonsila recebe ramos da artéria faríngea ascendente, que entra posteriormente na tonsila e da artéria palatina descendente e seus ramos: a.a. palatinas maior e menor. Todas as artérias mencionadas penetram a superfície profunda da tonsila, ramificam-se nos septos de tecido conjuntivo, estreitam se tornando arteríolas e por fim originam as alças capilares que nutrem o parênquima tonsilar. Quanto a drenagem venosa, os capilares se unem formando vênulas; as veias retornam no interior dos tecidos septais para a hemicápsula, tributando na drenagem faríngea.

      Com relação a drenagem linfática, ao contrário dos linfonodos, as tonsilas palatinas não possuem linfáticos aferentes ou seios linfáticos. Nas tonsilas, os plexos de vasos linfáticos finos circundam cada folículo, formando linfáticos eferentes que emergem para a hemicápsula e drenam para os linfonodos jugulodigástricos de forma direta, ou de forma indireta por meio dos linfonodos retrofaríngeos.

    A inervação dessas tonsilas é realizada pelos ramos tonsilares dos nervos maxilar e glossofaríngeo.

Tonsilas Faríngeas

      Também chamada de adenoide, a tonsila faríngea é uma massa mediana de tecido linfoide associado à mucosa (MALT) que se encontra no teto e na parede posterior da nasofaringe. Essa tonsila cresce rapidamente, atinge um tamanho máximo nos primeiros anos de vida e começa a atrofiar a partir dos 8-10 anos de idade (embora possa ocorrer hipoplasia em adultos até a sétima década). A tonsila faríngea forma parte do anel linfoide circunfaríngeo (anel de Waldeyer), contribuindo para a defesa das vias aéreas superiores, sendo que as áreas abrangidas pelos seus linfócitos podem incluir as cavidades nasais, nasofaringe, tubas auditivas e orelhas média e interna.

       Quanto a sua microestrutura, a adenoide é revestida lateral e inferiormente, principalmente, por tecido epitelial respiratório ciliado, com algumas placas de epitélio escamoso estratificado não queratinizado. Uma hemicápsula de tecido conjuntivo separa sua superfície superior do periósteo do esfenoide e do osso occipital. Quanto a sua estrutura fibrosa, a tonsila faríngea, semelhante à tonsila palatina, possui uma malha de tecido fibroso composto por fibras de colágeno tipo III (reticulina) que sustenta seu parênquima linfoide, se ancorando na hemicápsula. Internamente, a tonsila é separada em 4 a 6 lobos por septos de tecido conjuntivo que se originam na hemicápsula e penetram o parênquima linfoide.

        Com relação ao suprimento vascular da adenoide, a irrigação arterial é proveniente das artérias faríngea ascendente e palatina ascendente, da artéria do canal pterigóideo, do ramo faríngeo da artéria maxilar e dos ramos tonsilares da artéria facial; somado à isso, um vaso nutriente ou emissário para o osso circunvizinho, ramo das artérias hipofisárias inferiores, irriga o leito da tonsila. A drenagem venosa é feita por inúmeras veias comunicantes em direção aos plexos venosos submucosos internos e faríngeos externos.

      A inervação de grande parte da mucosa da nasofaringe posterior à tuba auditiva é realizada pelo ramo faríngeo do gânglio pterigopalatino.

Tonsilas Linguais

         As tonsilas linguais fazem referência coletivamente a numerosos nódulos linfoides encontrados no terço posterior da língua (raiz da língua).

Tonsilas Tubárias

     A tonsila tubária consiste em uma pequena massa de tecido linfoide, localizada na mucosa imediatamente posterior à abertura da tuba auditiva.

Anel linfático circunfaríngeo (de Waldeyer)

        O Anel de Waldeyer consiste em um anel circunfaríngeo de tecido linfoide associado à mucosa que circunda as aberturas dos tratos respiratório e digestório. É formado posterosuperiormente pela tonsila nasofaríngea, lateralmente pelas tonsilas palatinas e tubária, e anteroinferiormente pela tonsila lingual, com acúmulos menores de tecido linfoide nos intervalos intertonsilares.

VISTA MEDIAL DE CORTE SAGITAL MEDIANO DA CABEÇA EPESCOÇO

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4. APÊNDICE VERMIFORME

       O apêndice consiste em um tubo vermiforme estreito com origem na parede cecal posteromedial, logo abaixo do final do íleo. Ele pode ocupar diferentes posições, as mais comuns vistas na prática clínica são a retrocecal (atrás do ceco), a retrocólica (atrás da porção inferior do colo ascendente) e a pélvica ou descendente (quando o apêndice fica pendurado sobre a borda pélvica; em mulheres se relaciona intimamente com a tuba uterina e o ovário direitos). Seu comprimento varia de 2 a 20 cm, sendo frequentemente mais longo em crianças e podendo atrofiar e encurtar após a metade da vida adulta. O apêndice possui um lúmen pequeno que se abre no ceco por um óstio abaixo e posterior à abertura ileocecal; este óstio é muitas vezes guardado por uma prega reta da mucosa que forma uma espécie de “valva” assimétrica. O lúmen do apêndice pode estar evidente na infância e, geralmente, está parcial ou totalmente ocluso durante a vida adulta.

      Quanto a sua microestrutura, as camadas da parede do apêndice são as mesmas do restante do intestino grosso, porém com alguns aspectos diferentes. A camada serosa promove um revestimento completo, exceto ao longo da fixação mesentérica. Em alguns pontos as camadas musculares são deficientes, fazendo com que a serosa e a submucosa entrem em contato; já na base do apêndice a musculatura longitudinal se espessa para formar tênias rudimentares que se unem com as do ceco e do colo ascendente. A camada submucosa contém vários e grandes agregados de tecido linfoide que se entende a partir da mucosa atingindo a camada muscular, a qual se torna descontínua. Esses agregados também promovem a mucosa a se projetar para o lúmen, estreitando-o. O revestimento da mucosa é feito por epitélio simples cilíndrico, e o epitélio que reveste o tecido linfoide da mucosa contém também células M. Conforme ocorre nos folículos linfoides de outras áreas, o tecido linfoide da submucosa no apêndice demonstra centros germinativos em seus folículos, o que sugere a ativação de células B. No apêndice, os folículos linfoides estão ausentes ao nascimento, entretanto começam a se acumular nos primeiros dez anos de vida; já no adulto os folículos linfoides atrofiam e sofrem degeneração fibrosa, restando ao final um apêndice com tecido cicatricial fibroso.

        Com relação ao suprimento vascular, a irrigação arterial do apêndice vermiforme ocorre por ramos derivados da artéria mesentérica superior por meio das artérias cólica direita e ileocólica. A drenagem venosa é feita para as arcadas mesentéricas e consequentemente para as artérias segmentares que irão tributar na veia mesentérica superior. Quanto a drenagem linfática, no apêndice vermiforme, são numerosos os vasos linfáticos associados ao seu tecido linfoide (de 8 a 15 vasos), esses vasos se direcionam ao mesoapêndice a partir do corpo e do ápice do apêndice, se reúnem para formar três ou quatro vasos maiores que seguem para os vasos linfáticos responsáveis por drenar o colo ascendente, terminando nos linfonodos inferiores e superiores da cadeia ileocólica.

      A inervação do apêndice vermiforme possui um viés simpático oriundo do quinto ao décimo-segundo segmentos torácicos espinais, cujos axônios seguem até os plexos celíaco e mesentérico superior onde fazem sinapse com os gânglios celíaco e mesentérico superior, a partir dos quais seus axônios se distribuem pelas paredes do intestino grosso alcançando o apêndice. O suprimento parassimpático é derivado do nervo vago por meio dos plexos celíaco e mesentérico superior.

VISTA ANTERIOR DO INTESTINO GROSSO COM DIVERSAS AFECÇÕES

VISTA ANTERIOR DE CORTE FRONTAL DA REGIÃO DO CECO E ÍLEO TERMINAL

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Referências bibliográficas

  1. MOORE, K. L.; DALLEY, ; A. F.; AGUR, A. M. R. Anatomia Orientada para a Clínica. 7º edição. Guanabara Koogan. Rio de Janeiro.2014.

  2. STANDRING, S. Gray’s Anatomia: A base anatômica da prática clínica. 40ª Ed. Elsevier Editora Ltda. Rio de Janeiro. 2010.

  3. PAULSEN, F.; WASCHKE, J. SOBOTTA Atlas de Anatomia Humana. 23 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2012.

  4. NETTER, F. H. Atlas de anatomia humana. Porto Alegre: Artes Médicas, 2004.

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