Vários tipos de informações ou estímulos "bombardeiam" nosso corpo a todo momento. Essas informações são captadas, transmitidas e integradas pelo sistema nervoso e a integração, esse sistema organiza uma série de eventos que terminam como uma resposta à informação inicial. Ficou complexo? Calma, porque o estudo do sistema nervoso pode parecer assustador no início, mas, acredite, é igualmente fascinante.
Vamos a um exemplo!!! Suponhamos que você acaba de tocar a chama da boca do fogão. Imediatamente, você retira a mão, encolhendo o cotovelo e, logo após, sente a dor provocada e a temperatura do fogo que atingiu sua mão. Nesse exemplo, ao tocar o "fogo", receptores sensoriais, componentes do sistema nervoso, foram estimulados e transformaram esse “estímulo” físico (tocar o "fogo") em uma informação inicial (sinal elétrico) que caminha e é integrada em locais específicos do sistema nervoso, desencadeando a formação de outra informação que culmina em uma resposta motora (retirar a mão). Além disso, a mesma informação inicial que gerou a retirada da mão, segue um caminho diferente que termina por fazer você perceber a sensação de dor e temperatura. Não é incrível? Sim, eu sei que continua complexo! Mas estamos falando de sistema nervoso e quando se trata dele, infelizmente, ainda compreendemos muito pouco e há muito a ser estudado. Porém, o que já somos capazes de entender, vamos descrever a partir de agora.
"O sistema nervoso possibilita ao corpo responder a mudanças contínuas em seu ambiente externo e interno; ele controla e integra as atividades funcionais dos órgãos e dos sistemas orgânicos” (ROSS; PAWLINA, 2017, p. 360)
Anatomicamente, o sistema nervoso é dividido em sistema nervoso central (SNC), formado pelo encéfalo e pela medula espinal e em sistema nervoso periférico (SNP), formado pelos nervos espinais, nervos cranianos, nervos periféricos, receptores sensoriais, gânglios sensoriais (gânglio da raiz posterior) e componentes do sistema nervoso autônomo (neurovegetativo). Ao longo dessa e demais páginas relacionadas ao sistema nervoso, cada uma dessas estruturas será descrita, bem como sua função e como interagem umas com as outras, mas antes, temos que compreender quais são os componentes do tecido nervoso. O tecido nervoso está descrito no menu HISTOLOGIA, basta clicar na página de TECIDO NERVOSO ou no botão a seguir.
Basicamente, o tecido nervoso é formado por neurônios e células de sustentação, também denominadas de células da neuróglia ou glia. Essas células, em conjunto com a matriz extracelular, se agrupam para formar os componentes e regiões do sistema nervoso. O neurônio é a unidade funcional do sistema nervoso e, apesar de apresentar vários formatos, possuem necessariamente um corpo celular (pericárdio), que contém o núcleo e as demais organelas vitais de uma célula, e milhares de prolongamentos de diversos comprimentos que partem desse corpo celular. Os prolongamentos mais numerosos e, geralmente, mais curtos, são os dendritos, responsáveis por receber informações de outras células ou da periferia. O axônio também denominado fibra nervosa, é um prolongamento que parte do corpo celular é, geralmente, longo e único, sendo responsável por transmitir as informações (sinais elétricos) recebidas pelos dendritos e corpo celular em direção a um terminal especializado, denominado de terminal axonal ou botão terminal, o qual, juntamente à membrana da célula com quem se comunica, forma a sinapse. A sinapse é o “ponto de encontro”, a comunicação entre o terminal do axônio e a membrana de outra célula, que pode ser outro neurônio, uma célula muscular (esquelética, lisa ou cardíaca) ou uma célula glandular.
Talvez você já se perguntou como o sistema nervoso consegue diferenciar os vários tipos de informações que trafegam por suas vias, sendo que todas as informações são sinais elétricos (potenciais de ação). A resposta é complexa (claro!!!), porém, pode ser resumida para uma compreensão rápida. Veremos a seguir que o sistema nervoso possui várias regiões, divisões e estruturas específicas que realizam funções específicas. Além disso, as vias neurais partem de locais distintos e chegam a outros locais também distintos. Cada via neural é responsável por transmitir um tipo de informação, por exemplo, a via por onde trafegam as informações de dor não é a mesma por onde passam as informações do tato e nem da propriocepção. O estímulo responsável por ativar a via da dor também não é o mesmo que ativa a via do tato fino e, por isso, vias diferentes são ativadas. O mais interessante é que as informações que partem do pé, por exemplo, não chegam ao mesmo local, que informações que partem da mão. E para finalizar, o sistema nervoso ainda consegue diferenciar as informações pela frequência em que os potenciais de ação são disparados. Não disse que era incrível? O sistema nervoso é realmente muito interessante e complexo e para compreender um pouco mais sobre ele passaremos à descrição de sua organização funcional e anatômica.
1. Divisões Anatômica e Funcional do Sistema Nervoso
O sistema nervoso pode ser dividido de duas maneiras, de acordo com sua organização anatômica ou funcionalmente. Anatomicamente, o sistema nervoso é dividido em sistema nervoso central (SNC), formado pelo encéfalo que está contido na cavidade craniana, e pela medula espinal contida no canal vertebral da coluna; e em sistema nervoso periférico (SNP), formado pelos nervos espinais, os nervos formados de cada lado da medula espinal e que vão dar origem aos nervos periféricos, os nervos cranianos, os quais a maioria possui relação com o tronco encefálico, os receptores sensoriais que são estruturas especializadas localizadas nos terminais nervosos e capazes de responder a estímulos, gânglios sensoriais (gânglio da raiz posterior) que são agrupamentos de corpos de neurônios sensoriais localizados fora do SNC e componentes do sistema nervoso autônomo (neurovegetativo), o sistema responsável pela atividade motora visceral (MOORE; DALLEY; AGUR, 2014; TORTORA; NIELSEN, 2017).
Imagem modificada de TORTORA E PAWLINA, 2017.
A divisão funcional é formada pelas mesmas estruturas da divisão anatômica, porém, são agrupadas de acordo com a sua função. Assim temos estruturas que compõem a parte sensorial, a parte integrativa e a parte motora. A parte sensorial é responsável por coletar as informações sensoriais que incidem sobre a pele, mucosas e órgãos internos e enviá-las ao SNC por meio de vias aferentes (“vias de entrada”). Podemos dizer que a parte sensorial forma as aferências do sistema nervoso e é representada pelos receptores sensoriais, gânglios sensoriais e fibras (outro termo para axônio) que compõem os nervos com trajeto em direção ao SNC. Fibras que partem de regiões do SNC e chegam em outras no próprio SNC também são consideradas aferências. A parte integrativa recebe as informações aferentes e as integram (somação) para gerar uma resposta e compõem essa parte várias estruturas do SNC, como a medula espinal, núcleos encefálicos e córtex. A parte motora é formada pelas vias eferentes (“vias de saída”) que chegam aos órgãos efetores onde realizam sinapse. Como o próprio nome indica, a parte motora induz uma resposta motora, seja ela a contração voluntária de um músculo esquelético, a contração involuntária do músculo liso em um órgão, o controle da contração e frequência cardíacas ou a secreção de uma glândula.
Nessa página vamos abordar a divisão anatômica para descrever a morfologia e a função de cada região e estrutura que compõem o sistema nervoso. Mas antes, precisamos compreender como os componentes do tecido nervoso se organizam para formar essas regiões e estruturas.
Primeiramente, os neurônios e células de sustentação (da glia) se agrupam para formar o que denominamos de substância cinzenta e substância branca, as quais recebem essa nomenclatura devido a coloração visualizada macroscopicamente. A substância cinzenta é formada, principalmente, pelo agrupamento dos corpos dos neurônios, apesar de conter também os dendritos, as porções iniciais dos axônios (cone de implantação) e muitas células de sustentação. Já a substância branca é formada, basicamente, pelos agrupamentos dos axônios mielinizados e não mielinizados dos neurônios que formam a substância cinzenta e por células de sustentação (ROSS; PAWLINA, 2017; TORTORA; NIELSEN, 2017). A grande quantidade de mielina é a responsável pela coloração mais pálida dessa substância. Em algumas regiões, como no tronco encefálico, é possível observar a presença de alguns corpos de neurônios distribuídos de forma desorganizada (substância reticular do tronco encefálico) entre a substância branca.
Dependendo da maneira com que a substância cinzenta e a substância branca se distribuem no SNC e SNP, recebem nomenclaturas específicas:
SUBSTÂNCIA CINZENTA
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Córtex: corpos de neurônios agrupados e localizados na superfície do SNC. Ex: córtex cerebral e córtex cerebelar;
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Núcleos: corpos de neurônios agrupados e localizados profundamente à substância branca do encéfalo. Ex: núcleo rubro e núcleos da base;
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Cornos ou colunas: corpos de neurônios agrupados e envolvidos por substância branca na medula espinal. Ex: corno anterior e corno posterior da medula espinal;
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Gânglios: corpos de neurônios agrupados e localizados fora do SNC, ou seja, no SNP. Ex: gânglios sensoriais e gânglios autonômicos.
ENCÉFALO EM VISTA INFERIOR
MEDULA ESPINAL (no canal vertebral)
MEDULA ESPINAL EM CORTE TRANSVERSAL
TRONCO EM VISTA POSTERIOR
VISTA SUPERIOR DE CORTE TRANSVERSAL
DA MEDULA ESPINAL
VISTA POSTERIOR DE CORTE FRONTAL DO DORSO
VISTA SUPERIOR DE CORTE TRANSVERSAL DO LOBO TEMPORAL
VISTA MEDIAL DE CORTE SAGITAL MEDIANO DA CABEÇA
SUBSTÂNCIA BRANCA
A substância branca encefálica possui nomenclatura ampla, portanto, vamos abordar somente o principal. Na medula espinal a complexidade diminui.
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Tratos: longos feixes de axônios que compõem grande parte da substância branca do encéfalo e os funículos da medula espinal. Lemniscos são feixes de axônios mais achatados no encéfalo. Ex: tratos espinotalâmicos, tratos corticoespinais, lemnisco medial.
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Comissuras brancas: feixes de axônios que unem os dois lados de partes do encéfalo. Ex: comissura anterior, corpo caloso, aderência intertalâmica.
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Funículos: substância branca que forma as porções periféricas (superficial) da medula espinal. Nos funículos encontramos os tratos e fascículos da medula espinal. Ex: funículo anterior, funículo posterior.
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Pedúnculos: feixes de axônios que ligam uma parte do SNC à outra. Ex: pedúnculos cerebrais, pedúnculos cerebelares.
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Nervos: agrupamentos de axônios envolvidos por tecido conjuntivo, em forma de cilindro e com espessuras variadas que comunicam os órgãos efetores e a pele, ao SNC. Os axônios (fibras nervosas) podem ser aferentes e/ou eferentes. Alguns nervos se dividem ou se juntam para formar ramos, troncos e fascículos. Ex: nervo vago, nervo mediano, nervos espinais...
VISTA MEDIAL DE CORTE SAGITAL MEDIANO DA CABEÇA
VISTA SUPERIOR DE CORTE TRANSVERSAL
DA MEDULA ESPINAL
VISTA SUPERIOR DE CORTE TRANSVERSAL DO LOBO TEMPORAL
VISTA SUPERIOR DE CORTE TRANSVERSAL
DA MEDULA ESPINAL
Referências
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MOORE, K L.; DALLEY, A F.; AGUR, A M. R. Anatomia Orientada para a Clínica. 7 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014.
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BORGES, G. Anatomia e Fisiologia Humanas. 1 ed. IESDE: Curitiba, 2019.
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NETTER, F. H. Atlas de anatomia humana. Porto Alegre: Artes Médicas, 2004.
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TORTORA, G J.; NIELSEN, M T. Princípios de Anatomia Humana. 12 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2013.