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ÓRGÃOS ENDÓCRINOS

   As glândulas endócrinas são formadas por células derivadas de epitélios (células epiteliais sem superfície livre, agregadas), as quais estão incorporadas no tecido conjuntivo adjacente. Esse tipo de glândula varia quanto ao tamanho, formato e localização no corpo, porém, compartilham inúmeras características morfológicas, como por exemplo, são desprovidas de ductos excretores e, dessa forma, a sua secreção (hormônios) é liberada na matriz extracelular do tecido conjuntivo situado em regiões próximas dos capilares do tecido, e são transportados ao longo do lúmen dos vasos sanguíneos (ou linfáticos) para a sua ampla distribuição pelo corpo. Esses produtos secretores influenciam órgãos ou tecidos-alvo localizados a certa distância da glândula. Por esse motivo, as glândulas endócrinas são circundadas por uma rica rede vascular. 

glândula hipófise

    A hipófise ("pituitária") é um pequeno órgão que pesa cerca de 0,5 g no adulto e cujas dimensões são cerca de 10 x 13 x 6 mm. Localiza-se em uma cavidade do osso esfenoide - a sela turca - que é um importante ponto de referência radiológico. A hipófise se liga ao hipotálamo, situado na base do cérebro, por um pedículo que é a ligação entre a hipófise e o sistema nervoso central. Ela tem origem embriológica dupla: nervosa e ectodérmica. A porção de origem nervosa se desenvolve pelo crescimento do assoalho do diencéfalo em direção caudal e a porção ectodérmica da hipófise se desenvolve a partir de um trecho do ectoderma do teto da boca primitiva que cresce em direção cranial formando a bolsa de Rathke. Em razão de sua origem embriológica dupla, a hipófise consiste, na realidade, em duas glândulas: a neuro-hipófise e a adeno-hipófise, unidas anatomicamente e tendo funções diferentes, porém inter-relacionadas. A porção originada do ectoderma - a adeno-hipófise - não tem conexão anatômica com o sistema nervoso. É subdividida em três porções a primeira e mais volumosa é a pars distalis ou lobo anterior a segunda é a porção cranial que abraça o infundíbulo, denominada pars tuberalis a terceira, denominada pars intermedia, é uma região rudimentar na espécie humana, intermediária entre a neuro-hipófise e a pars distalis, separada desta última pela fissura restante da cavidade da bolsa de Rathke.

      A glândula é revestida por uma cápsula de tecido conjuntivo, contínua com a rede de fibras reticulares que suporta as células do órgão.

        VASCULARIZAÇÃO HIPOFISÁRIA

      A irrigação hipofisária forma um sistema porta e é fundamental para o bom funcionamento da glândula, principalmente para a distribuição de hormônios provenientes do hipotálamo. É realizado por dois grupos de artérias originadas das artérias carótidas internas: as artérias hipofisárias superiores direita e esquerda, irrigam a eminência mediana e o infundíbulo; as artérias hipofisárias inferiores direita e esquerda, irrigam principalmente a neuro-hipófise, mas enviam alguns ramos para a haste da hipófise. No infundíbulo as artérias hipofisárias superiores formam um plexo capilar primário cujas células endoteliais são fenestradas. Os capilares do plexo primário se reúnem para formar vênulas e pequenos vasos que se encaminham para a pars distalis, onde se ramificam novamente, formando um extenso plexo capilar secundário. Há, portanto, dois sistemas capilares em sequência, o que caracteriza um sistema porta, denominado sistema porta hipofisário. O suprimento sanguíneo da pars distalis é feito, portanto, de sangue vindo principalmente do infundíbulo através do sistema porta-hipofisário e em escala muito menor de alguns ramos das artérias hipofisárias inferiores. Através desse sistema vascular vários neurohormônios produzidos no hipotálamo são levados diretamente do infundíbulo na eminência mediana à pars distalis, controlando a função de suas células.

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Imagem modificada de Ross e Pawlina, 2019.

Plexo capilar primário

Plexo capilar secundário

HIPÓFISE (HE) - 40x

(foto coletada pela ocular)

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A pars tuberalis que também faz parte da adeno-hipófise não saiu nesse corte.

        I. ADENO-HIPÓFISE (LOBO ANTERIOR)

      1.1. Pars distalis: representa em torno de 75% da massa da hipófise. É formada por cordões e ilhas de células epiteliais cuboides ou poligonais produtoras de hormônios. Os hormônios produzidos pelas células secretoras são armazenados em grânulos de secreção.

    Existe na pars distalis um tipo de célula que se supõe não ser secretora. São as células foliculoestrelares que constituem cerca de 10% das células desta região da adeno-hipófise. Elas têm muitos prolongamentos, os quais estabelecem contato com outras células do mesmo tipo por meio de junções intercelulares: desmossomos e junções comunicantes. A função dessas células, que estabelecem redes em torno das células secretoras, ainda não é totalmente conhecida.

    Entre os cordões e ilhas de células há muitos capilares sanguíneos (que pertencem ao plexo capilar secundário do sistema porta-hipofisário). Os poucos fibroblastos dessa região produzem fibras reticulares que sustentam os cordões de células.

 

    Células secretoras da pars distalis: a pars distalis secreta vários hormônios, fatores de crescimento e citocinas. Pelo menos seis importantes hormônios são produzidos, porém só três tipos de células costumam ser reconhecidos por colorações rotineiras. Essas células são classificadas em cromófobas (50%) (pouco coradas) e cromófilas (contêm grânulos bem corados). As células cromófilas são constituídas de dois subtipos, as acidófilas (40%) e as basófilas (10%), de acordo com sua afinidade por corantes ácidos ou básicos. As células cromófobas têm poucos grãos (ou nenhum) de secreção e são mais difíceis de serem reconhecidas que as células cromófilas. É possível que algumas das cromófobas sejam células cromófilas degranuladas ou que possam ser células-tronco da adeno-hipófise, pois sabe-se que há renovação celular nesta glândula. "No entanto, essa classificação não fornece informação sobre a atividade de secreção hormonal ou o papel funcional dessas células" (Ross e Pawlina, 2019).

       Todos os hormônios até hoje identificados da adeno-hipófise consistem em proteínas ou glicoproteínas o que levou à identificação definitiva por imunocitoquímica de tipos celulares específicos no parênquima da adeno-hipófise e à classificação dessas células em cinco tipos:

          1. Somatotropos (células de GH):  aproximadamente 50% das células parenquimatosas na adeno-hipófise com caráter acidófilo. Células ovais de tamanho médio com núcleos esféricos de localização central e produzem o hormônio do crescimento (GH; somatotropina). Três hormônios regulam a liberação de GH dos somatotropos. Dois hormônios são hipotalâmicos e possuem ações opostas; o hormônio de liberação do hormônio do crescimento (GHRH; do inglês, growth hormone-releasing hormone) estimula a liberação de GH, já a somatostatina inibe a liberação de GH. Atualmente sabe-se que a grelina, um peptídio de 28 aminoácidos que foi isolado do estômago é um potente estimulador da secreção de GH, que aparentemente coordena a ingestão de alimentos por meio dessa secreção. 

      2. Lactotropos (células de PRL ou mamotropos): 15 a 20% das células parenquimatosas na adeno-hipófise de caráter acidófilo quando contém vesículas secretoras. São grandes células poligonais com núcleos ovais. Produzem prolactina (PRL) e sua secreção está sob controle inibitório da dopamina, uma catecolamina produzida no hipotálamo. O hormônio de liberação da tireotropina (TRH; do inglês, thyrotropin releasing hormone) e o peptídio inibidor vasoativo (VIP; do inglês, vasoactive inhibitory peptide) estimulam a síntese e a secreção de PRL. Durante a gravidez e a lactação, essas células sofrem hipertrofia e hiperplasia, levando ao aumento de tamanho da hipófise. Esses processos são responsáveis pelo maior tamanho da hipófise nas mulheres multíparas.

      3. Corticotropos (células de ACTH): 15 a 20% das células parenquimatosas na adeno-hipófise de caráter basófilo. São células poligonais de tamanho médio com núcleos esféricos e excêntricos produzem uma molécula precursora do hormônio adrenocorticotrópico (ACTH), conhecida como pró-opiomelanocortina (POMC). A liberação de ACTH é regulada pelo hormônio de liberação da corticotropina (CRH; do inglês, corticotropin-releasing hormone) produzido pelo hipotálamo.

       4. Gonadotropos (células de FSH e LH): 10% das células parenquimatosas na adeno-hipófise com caráter basofílico. São caracterizados como pequenas células ovais com núcleos esféricos e excêntricos que produzem o hormônio luteinizante (LH) e o hormônio foliculoestimulante (FSH) que agem nas gônadas. A atividade dos gonadotropos também é regulada pelo hipotálamo por meio do hormônio de liberação das gonadotropinas (GnRH).

      5. Tireotropos (células de TSH): 5% das células parenquimatosas na adeno-hipófise com caráter basofílico. São grandes células poligonais com núcleos esféricos e excêntricos que produzem o hormônio tireotrópico ou hormônio tireoestimulante (TSH), que atua sobre as células foliculares da glândula tireoide para estimular a síntese de tireoglobulina e dos hormônios tireoidianos. A liberação de TSH também está sob o controle hipotalâmico que produz e secreta o hormônio de liberação da tireotropina (TRH) que também estimula a secreção de PRL. A somatostatina tem efeito inibidor sobre os tireotropos e diminui a secreção de TSH.

HIPÓFISE (HE) - pars distalis - 100x

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ADENO-HIPÓFISE (HE) - pars distalis - 400x

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ADENO-HIPÓFISE (HE) - pars distalis - 400x

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      1.2. Pars tuberalis: é uma região em forma de funil que cerca o infundíbulo da neuro-hipófise. É uma região importante em animais que mudam seus hábitos em função da estação do ano (p. ex., animais que hibernam) por meio do controle da produção de prolactina.

 

    1.3. Pars intermedia: se localiza na porção dorsal da antiga bolsa de Rathke, em humanos adultos é uma região rudimentar composta de cordões e folículos de células fracamente basófilas que contêm pequenos grânulos de secreção. Essa região circunda uma série de pequenas cavidades císticas (folículos repletos de coloide) que representam o lúmen residual da bolsa de Rathke. "A natureza desse coloide folicular ainda não foi determinada; no entanto, com frequência, são encontrados resíduos celulares no seu interior" (Ross e Pawlina, 2019). 

 

HIPÓFISE (HE) - 40x

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ADENO-HIPÓFISE (HE) - pars intermedia- 400x

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        II. NEURO-HIPÓFISE (LOBO POSTERIOR)

      A neuro-hipófise consiste na pars nervosa e no infundíbulo. A pars nervosa, diferentemente da adeno-hipófise, não contém células secretoras. Apresenta um tipo específico de célula glial muito ramificada, chamada pituícito. O componente mais importante da pars nervosa é formado por cerca de 100 mil axônios não mielinizados de neurônios secretores cujos corpos celulares estão situados nos núcleos supraópticos e paraventriculares do hipotálamo no diencéfalo. Esses axônios seguem do hipotálamo até o lobo posterior da hipófise pelo infundíbulo formando o trato hipotálamo-hipofisário. Os neurônios secretores produzem ocitocina e hormônio antidiurético (ADH ou vasopressina) e têm todas as características de neurônios típicos, inclusive a habilidade de desencadear potenciais de ação, mas têm corpúsculos de Nissl muito desenvolvidos relacionados com a produção de neurossecreção. A neurossecreção é transportada ao longo dos axônios e se acumula nas suas extremidades, situadas na pars nervosa. Seus depósitos formam estruturas conhecidas como corpúsculos de Herring, quando os grânulos são liberados, a secreção entra nos capilares sanguíneos fenestrados que existem em grande quantidade na pars nervosa, e os hormônios são distribuídos pela circulação geral aos seus órgãos alvo. Portanto a neuro-hipófise não é uma glândula endócrina como a adeno-hipófise, mas sim, um local de armazenamento de neurossecreções (hormônios) hipotalâmicas. 

NEURO-HIPÓFISE (HE) - pars nervosa - 400x

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glândula tireoide

    A glândula tireoide é uma glândula endócrina bilobada, localizada na região anterior do pescoço, que consiste em dois grandes lobos laterais conectados por um istmo, uma fina faixa de tecido tireoidiano. Os dois lobos, medindo, cada um deles, aproximadamente 5 cm de comprimento, 2,5 cm de largura e 20 a 30 g de peso, estão situados em cada lado da laringe e parte superior da traqueia. O istmo cruza a superfície anterior da segunda e terceira cartilagens traqueais. Com frequência, um lobo piramidal estende-se superiormente a partir do istmo. A glândula é circundada por uma cápsula fina de tecido conjuntivo. A cápsula envia trabéculas para dentro do parênquima, que contornam parcialmente os lobos e lóbulos irregulares. Os folículos da tireoide constituem as unidades funcionais da glândula. A glândula tireoide desenvolve-se a partir do revestimento endodérmico do assoalho da faringe primitiva. Os folículos contêm massa gelatinosa, denominada coloide. As superfícies apicais das células foliculares estão em contato com o coloide, enquanto as superfícies basais repousam sobre uma lâmina basal típica.

       O epitélio folicular é composto de dois tipos de células: células foliculares e células parafoliculares. As células foliculares (células principais) são responsáveis pela produção dos hormônios tireoidianos T4 e T3. O complexo de Golgi exibe uma posição supranuclear. Podem ser identificadas gotículas de lipídios e gotículas PAS-positivas, complexos juncionais típicos na extremidade apical da célula e microvilosidades curtas na superfície apical. Na região basal, observa-se a existência de numerosos perfis de retículo endoplasmático rugoso (RER). No citoplasma apical, observa-se também a existência de quantidades abundantes de vesículas endocitóticas, identificadas como gotículas de reabsorção coloidal, e lisossomos. As células foliculares são estimuladas pelo hormônio tireotrófico (TSH) secretado pela adeno-hipófise.

      As células parafoliculares (células C) estão localizadas na periferia do epitélio folicular e situam-se dentro da lâmina basal dos folículos. Secretam calcitonina, um hormônio que regula o metabolismo do cálcio. Em preparações de rotina coradas pela H&E, as células C apresentam coloração pálida e ocorrem como células solitárias ou pequenos agrupamentos de células. É difícil identificar as células parafoliculares humanas à microscopia óptica. Uma extensa rede de capilares fenestrados, derivados das artérias tireoideas superior e inferior, circunda os folículos. O principal componente do coloide é uma grande glicoproteína (660 kDa) iodada, denominada tireoglobulina, que contém cerca de 120 resíduos de tirosina. O coloide também apresenta várias enzimas e outras glicoproteínas. A tireoglobulina não é um hormônio, mas uma forma inativa de armazenamento dos hormônios tireoidianos.

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TIREOIDE (HE) - 100x

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TIREOIDE (HE) - 400x

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   As glândulas endócrinas são formadas por células derivadas de epitélios (células epiteliais sem superfície livre, agregadas), as quais estão incorporadas no tecido conjuntivo adjacente. Esse tipo de glândula varia quanto ao tamanho, formato e localização no corpo, porém, compartilham inúmeras características morfológicas, como por exemplo, são desprovidas de ductos excretores e, dessa forma, a sua secreção (hormônios) é liberada na matriz extracelular do tecido conjuntivo situado em regiões próximas dos capilares do tecido, e são transportados ao longo do lúmen dos vasos sanguíneos (ou linfáticos) para a sua ampla distribuição pelo corpo. Esses produtos secretores influenciam órgãos ou tecidos-alvo localizados a certa distância da glândula. Por esse motivo, as glândulas endócrinas são circundadas por uma rica rede vascular. 

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